Aí está, Vênus de Milo com Dois Braços #1:
Já faz um bom tempo que estávamos eu, o Fernando e a Karen em um bar discutindo o que viria a ser o Dominódromo. Desde aquele dia gostei da idéia e até hoje vinha acompanhando com muito carinho o trabalho dos dois. Não posso negar, ser amigo de faculdade do Fernando, no mínimo, já me rendeu uma série de convites vips e outras regalias do tipo.
Também há algum tempo namoro a possibilidade de contribuir para o site de alguma forma, ao menos para compensar as regalias. Idéias não faltaram, mas a verdade é que não tenho duas coisas importantes: tempo e conhecimento sobre música. Não me entendam mal, adoro música, mas em termos de conhecimento estou longe, bem longe, do Fernando e da Karen, ou mesmo do Rodrigo e do Felipe. Não é raro estarmos em algum lugar e eu perguntar para um deles o que é isso que está tocando, e no dia seguinte vou procurar todo pimpão procurar na internet e colocar no iPod para ouvir.
Mas nem sempre foi assim. Até uns anos atrás eu baixava o mp3 na internet mas queimava em um CDR para poder ouvir em qualquer outro lugar que não houvesse um computador. Antes disso eu comprava o CD na loja mesmo. E bem antes, na infância, o negócio eram as fitas K7. O LP eu já peguei o finalzinho.
Não sou novo o suficiente para já ter sido alfabetizado nesse novo mundo, nem velho o suficiente para não ter me adapado à essa nova realidade. Viver esse período é um privilégio pois, como "testemunha auricular" da história posso olhar para trás e ver uma estrutura ruir do dia para a noite ao mesmo tempo que as coisas que vão surgindo para ocupar esse espaço são misteriosas e indefinidas. Em outras palavras, ninguém sabe o que vai acontecer!
Como publicitário (de profissão) e administrador (de formação) esse é um assunto que me fascina, e por isso perguntei para o Fernando, que tem a mesma trajetória profissional e acadêmica, porque o Dominódromo não abordava esse tipo de reflexão. Estava aí um assunto do qual eu me sentia mais a vontade para contribuir, e cá estou!
O primeiro post é sobe o Lobão. Antes que você torça o nariz, já digo que não sou exatamente um fã de sua música, mas sempre que tenho oportunidade faço questão de ouvir o que o cara tem para dizer. Se tem alguém que entende do futuro da indústria fonográfica no Brasil, esse cara é o Lobão. Na verdade ele é o tipo de cara que faz o futuro da indústria fonográfica.
Mais ou menos na época em que o mp3 ainda não era muito difundido, que o rádio ainda gozava de certo prestígio e que o CD ainda era a principal mídia, Lobão se rebelou contra o sistema e fez algo impensável. Mas antes vale um flashback. Caso você não saiba de quem estou falando, Lobão foi um dos principais ícones do rock brasileiro nos anos 80, tendo fundado a banda Blitz e depois emplacado vários sucessos em carreira solo.
Pois bem, lá por volta do ano 2000 ele estava bastante desaparecido da mídia e há tempos não fazia nada que empolgasse o público como no passado. Lobão explicava a situação pela recusa de entrar no esquema da indústria, ou seja, pagar jabá para as rádios para ficar conhecido, e a partir daí fazer a máquina girar.
Então, inconformado, resolveu virar o jogo com uma idéia simples. Lobão produziu seu disco de maneira indepentente e começou a vendê-lo em bancas de jornal, junto com uma revista. Além de ser um ponto de venda mais democrático e acessível para o brasileiro médio, a novidade chamava atenção por si só e o custo do CD, sem o jabá, era reduzido para menos da metade do que normalmente custaria em uma loja, no esquema tradicional.
Depois ele ainda viria a lançar outras bandas nesse esquema, montando sua própria gravadora/editora. Como banda larga e mp3 player ainda não eram conceitos muito difundidos nessa época, para mim o futuro da música no Brasil começou nas bancas de jornais.
Foi nessa época que Lobão começou a dar entrevistas em vários lugares para falar o que pensava sobre música, indústria fonográfica, jabá e coisas do tipo. Sempre falando o que pensa, sem filtros, suas entrevistas são muito divertidas. Ele é o cara que consegue misturar em uma frase só uma coisa totalmente cabeça com um causo envolvendo drogas e palavrões. Imperdível.
Na verdade falei de todas essas coisas só porque queria abrir minha coluna no Dominódromo com uma entrevista recente do Lobão que vi no Café Filosófico, aqui: http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-volta-dos-deuses-embusteiros-lobao O tema dessa vez não é a distribuição de música, mas sim a "volta dos deuses embusteiros", ou seja, o momento cultural em que vivemos onde qualquer um, por qualquer motivo, pode se tornar celebridade, ainda que não tenha motivos artisticamente relevantes para isso.
É um tipo de efeito colateral da democratização da internet. Se antes você tinha que pagar para aparecer, agora os meios estão disponíveis para qualquer um. O ruim é que o espaço está igualmente aberto para todos, bons artistas, maus artistas e aqueles que nem artistas são, como participantes de reality show.
Sem papas na língua, Lobão solta uma pérola atrás da outra, como, por exemplo, quando diz que brega pra ele não é o gênero popular do nordeste, mas sim a MPB simulacro da intelectualidade, ou o universitário que toca chorinho de forma virtuosa, como se fosse algo sagrado onde nenhuma inovação é permitida. Para Lobão isso é o falso absoluto, a "Vênus de Milos com dois braços".
Para ele isso é personificado em gente como Caetano Veloso, que toca violão como quem está tomando cafézinho com nojo, ou Gilberto Gil, que explica seu programa de governo por meio de batuque no microfone (sim, ele fez isso em uma convenção do partido).Não sou novo o suficiente para já ter sido alfabetizado nesse novo mundo, nem velho o suficiente para não ter me adapado à essa nova realidade. Viver esse período é um privilégio pois, como "testemunha auricular" da história posso olhar para trás e ver uma estrutura ruir do dia para a noite ao mesmo tempo que as coisas que vão surgindo para ocupar esse espaço são misteriosas e indefinidas. Em outras palavras, ninguém sabe o que vai acontecer!
Como publicitário (de profissão) e administrador (de formação) esse é um assunto que me fascina, e por isso perguntei para o Fernando, que tem a mesma trajetória profissional e acadêmica, porque o Dominódromo não abordava esse tipo de reflexão. Estava aí um assunto do qual eu me sentia mais a vontade para contribuir, e cá estou!
O primeiro post é sobe o Lobão. Antes que você torça o nariz, já digo que não sou exatamente um fã de sua música, mas sempre que tenho oportunidade faço questão de ouvir o que o cara tem para dizer. Se tem alguém que entende do futuro da indústria fonográfica no Brasil, esse cara é o Lobão. Na verdade ele é o tipo de cara que faz o futuro da indústria fonográfica.
Mais ou menos na época em que o mp3 ainda não era muito difundido, que o rádio ainda gozava de certo prestígio e que o CD ainda era a principal mídia, Lobão se rebelou contra o sistema e fez algo impensável. Mas antes vale um flashback. Caso você não saiba de quem estou falando, Lobão foi um dos principais ícones do rock brasileiro nos anos 80, tendo fundado a banda Blitz e depois emplacado vários sucessos em carreira solo.
Pois bem, lá por volta do ano 2000 ele estava bastante desaparecido da mídia e há tempos não fazia nada que empolgasse o público como no passado. Lobão explicava a situação pela recusa de entrar no esquema da indústria, ou seja, pagar jabá para as rádios para ficar conhecido, e a partir daí fazer a máquina girar.
Então, inconformado, resolveu virar o jogo com uma idéia simples. Lobão produziu seu disco de maneira indepentente e começou a vendê-lo em bancas de jornal, junto com uma revista. Além de ser um ponto de venda mais democrático e acessível para o brasileiro médio, a novidade chamava atenção por si só e o custo do CD, sem o jabá, era reduzido para menos da metade do que normalmente custaria em uma loja, no esquema tradicional.
Depois ele ainda viria a lançar outras bandas nesse esquema, montando sua própria gravadora/editora. Como banda larga e mp3 player ainda não eram conceitos muito difundidos nessa época, para mim o futuro da música no Brasil começou nas bancas de jornais.
Foi nessa época que Lobão começou a dar entrevistas em vários lugares para falar o que pensava sobre música, indústria fonográfica, jabá e coisas do tipo. Sempre falando o que pensa, sem filtros, suas entrevistas são muito divertidas. Ele é o cara que consegue misturar em uma frase só uma coisa totalmente cabeça com um causo envolvendo drogas e palavrões. Imperdível.
Na verdade falei de todas essas coisas só porque queria abrir minha coluna no Dominódromo com uma entrevista recente do Lobão que vi no Café Filosófico, aqui: http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-volta-dos-deuses-embusteiros-lobao O tema dessa vez não é a distribuição de música, mas sim a "volta dos deuses embusteiros", ou seja, o momento cultural em que vivemos onde qualquer um, por qualquer motivo, pode se tornar celebridade, ainda que não tenha motivos artisticamente relevantes para isso.
É um tipo de efeito colateral da democratização da internet. Se antes você tinha que pagar para aparecer, agora os meios estão disponíveis para qualquer um. O ruim é que o espaço está igualmente aberto para todos, bons artistas, maus artistas e aqueles que nem artistas são, como participantes de reality show.
Sem papas na língua, Lobão solta uma pérola atrás da outra, como, por exemplo, quando diz que brega pra ele não é o gênero popular do nordeste, mas sim a MPB simulacro da intelectualidade, ou o universitário que toca chorinho de forma virtuosa, como se fosse algo sagrado onde nenhuma inovação é permitida. Para Lobão isso é o falso absoluto, a "Vênus de Milos com dois braços".
Mas para Lobão a culpa não é da mídia, nem do jabá, mas sim do público que consome isso. Do cara de 18 anos que é um bundão e toca chorinho, nas palavras dele. E eu concordo plenamente. Por isso o Dominódromo está aí, para apresentar uma alternativa musical à esse público. E eu me orgulho de fazer parte desse time.
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