Música, enfim, livre de quaisquer obstáculos à beleza pura e simples de cada nota. Sem gêneros, amarras ou estéticas pré-concebidas; sem adereços, consumidores ou hermetismo.
Vini Reilly criou o Durutti Column ambicionando um quase-niilismo em relação à produção musical de sua época. Por isso, resumir sua indócil obra em rótulos ou palavras congregantes é tarefa árdua. Talvez até coubesse destacar a sua virtuosidade na guitarra, mas Reilly nunca precisou demonstrar sua destreza com fogos de artifício; cada nota sua respira, prolongando sua existência em eco. Seu vínculo com a música é emocional, instintivo, e sua técnica apenas permite que ele consiga representar acuradamente aquilo que sente.
Apesar de ser o artista mais excêntrico da lendária Factory Records, casa de colossos do post-punk como Joy Division, New Order, A Certain Ratio, dentre outros, Reilly ironicamente foi o mais resiliente do elenco: lançou discos do Durutti em todas as fases do selo, de 1990 a 2004, cada vez reinventando seu som e a formação da banda. Progressivamente, mais vocais, experimentalismo e elementos eletrônicos foram surgindo no decorrer da carreira, até hoje ativa. Recentemente, lançou o disco Idiot Savants (2007).
A música que quero destacar, entretanto, é do primeiro disco do Durutti Column, The Return of the Durutti Column. Sketch for Summer é uma das coisas mais lindas que já ouvi, tão distante do nosso verão de tráfego, de luta pelo espaço do guarda-sol na praia, de ar-condicionado de escritório, e tão próxima àquele verão pelo qual ansiamos, singelo e contemplativo, quando o sol e as pancadas de chuva nem parecem tão implacáveis, quando o cabelo grudado de suor deixa de incomodar, quando, finalmente, reconhecemos-nos em únissono com a natureza.
[MP3: the durutti column - sketch for summer]
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