O BOAT, da excelente I'm A Donkey For Your Love (MP3 do dia aqui), representa a ingenuidade nerd do indie dos anos 90. Os elementos clássicos de uma banda de rock (guitarras, baixo, bateria e teclado) estão lá, mas há uma certa excentricidade nas letras e na forma de cantar e tocar os instrumentos. A musica é quebrada, as distorções da guitarra não permanecem, a letra é contada como um relato; a melodia mesmo está em um ondulante UuUuUuUuUU. A banda claramente quer tocar rock, mas faz zero questão de ser cool. E caso você me pergunte, acho isto bem legal.
Deixe-me explicar os antecedentes: depois de anos da repressão chauvinista dos punks e metaleiros, a década de 90 veio para aliviar a vida dos moleques nerds. Com a ascensão do indie rock, a esquisitice e as aspirações intelectuais deixaram de conflitar com os sonhos de rockstar, para virarem justamente a matéria dos mesmos.
Agora, as letras podiam ser mais elaboradas, sinceras, cheias de referências literárias; as músicas podiam ser preguiçosas, delicadas ou realmente esquisitas; a vergonha, a timidez e a acne não seriam empecilhos, mas parte do charme - com sorte, as garotas achariam a proposta adorável. Fazer tipo não era mais necessário!
E aí veio uma grande ironia: visto o sucesso inicial desta revolução educada, muitos começaram justamente a fazer o tipo nerd. Óculos espessos, suéteres de vovó, esquisitice premeditada. Nerd rock, a imprensa logo se apressou a declamar. Foi o fim: o cinismo pós-moderno matou esta pequena fresta de liberdade e auto-assunção para os nerds de verdade. Restou correr de volta para o Vale do Silício e as aulas de English Lit. Ou esperar por 15 anos, como o BOAT fez.
[MP3: boat - tough talking the tulips]
do álbum setting the paces (2009)
FICHA
Quem: BOAT
Onde: Seattle, EUA
Myspace: myspace.com/boatmusic
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