Uma música linda chega aos ouvidos e nada mais importa: você precisa saber de onde ela está vindo, e quem a está tocando, e como são os seus cabelos, e os seus olhos, e o seu jeito de se vestir, e as suas mãos, e os seus pequenos sorrisos tímidos, e os seus pequenos tiques, e as suas pequenas observações que preenchem o desconforto entre as canções.
Mas não se engane. No fim do rastro crescente do som, você encontrará ninguém; apenas um toca-fitas empoeirado, triste, dando voltas em si. O tempo da transmissão deixou de ser real. Restaram pulsos fantasmagóricos do que um dia foi gênese, vida, criação; a fita magnética, um resumo canhestro de toda uma existência, irredutível em sua síntese. Puxar sua tripa à força, até a raiz, revelará mais nada, senão plástico duro e morto, de onde nada nasce e nunca nasceu.
Trish Keenan, do Broadcast, morreu. Benoit Pioulard e Rafael Anton Irisarri, ou Orcas, tentam conjurar alguma mágica da pequena parcela de seu passado que ficou no cromo.
[MP3: orcas – until then]
Não, é claro que não é a mesma coisa. Mas é alguma coisa, sim: uma homenagem, uma memória, um segundo olhar. A fita não poderá mais ser estendida, mas a fração de espírito capturada em seu magnetismo inspirará, por muito, nós que ainda nos estendemos por aqui.
"Before she went to Australia Trish sent me a mix CD of bonkers pop music she compiled, I never thanked her. It's called Mind-Bending Motorway Mix and I want to share it with you, please pass the link on, share it far and wide, it's a little tribute to a (as a friend referred to her today) exhilarating woman (...) Sorry I don't have a tracklist and to be honest I like it that way. I think it's less about who you're listening to on... that compilation and more about the fact you are listening to something that Trish took time to select and compile for me and in turn yourselves. Sorry but please just enjoy the music." (via)
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