20 de janeiro de 2009
mp3 do dia - a weather
Amo Portland e não a conheço. Amo, porém, a ideia que tenho dela. Sintética e orgânica, civilização e floresta, casas de madeira e pistas de skate, frio indescritível e pessoas que fazem sentido. A rotina seria tão mais que rotina: caminhadas noturnas para casa, rosas colhidas, fogueiras sobre o barro, dieta de fanzines, stickers, guitarras toscas e cordas gentis. Portland é a minha Paris.
Da ambiências celestes da moça que mais ouvi em 2008, Grouper, aos jogos de métrica e palavras dos rapazes que mais ouvi na adolescência, Pavement, há algo na música de lá que faz sentido para mim, um vínculo para o qual não espero compreensão alheia. O contexto imaginário que originou tudo isso é a Portland onde busco morar, todo dia. O blog é o meu zine; os fones de ouvidos, as caixas de som no quintal, amplificando o chiado da vitrola surrada; os livros e textos, conversas profundas sobre todos os assuntos. Tento não esquecer disto.
Spider, Snakes simplesmente bateu. Foi o soco no estômago mais delicado que já existiu. Os poucos elementos significaram tudo, no ato. Poucas notas, chiados, um sutil órgão ciceroneando as vozes, dedilhados simples e bonitos de guitarra pontuando o refrão. E ainda há isto aqui:
Do you read when you go to bed?
Do you lie there shaking instead?
Cause it works both ways with the rain
leaving the words unread
and I want to have you again
listening to Bedhead
Mencionar o Bedhead na cama, algo que fiz tantas vezes, já nem era necessário. E descobrir que o A Weather é de Portland, apenas depois dessa impressão contundente, trouxe uma estranha satisfação. Não é sempre que as coisas fazem sentido assim. A cidade imaginária ficou ainda mais absoluta.
[MP3: a weather - spiders, snakes]
do álbum cove (2008)
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