30 de junho de 2008

mp3 do dia - como foi o motomix / fujiya & miyagi


Antes de tudo, quero deixar claro que vocês podem desconsiderar a minha opinião sobre o Motomix: meu texto virá com o viés de quem imaginou e escreveu conceito, formato e lineup do projeto. Sim, minhaa relação com esse festival é íntima, paterna.

Dito isso, achei o evento incrível. Juro que estou sendo sincero. A expectativa para os shows do Fujiya & Miyagi e, claro, do Go! Team - minhas bandas prediletas da escalação - era astronômica, mas foi correspondida, com sobra. E durante esse sábado no Ibirapuera, havia algo no ar, uma atmosfera especial, que despertava sorrisos, conversas com estranhos, descobertas sensoriais. Talvez tenha sido pela combinação feliz e semi-acidental de cenário (o parque e o dia lindo), acesso (a gratuidade), boa música (ainda que desconhecida) e público presente (gente aberta, diversa e interessante, ao invés dos costumeiros VIPs). Ou pode ter sido a adesão do projeto a uma cartilha simples: menos aparência, megalomania, lugares-comuns, vícios marketeiros e subestimação do público. O nosso calendário cultural é cheio de tudo isso, e o frescor de algo um pouquinho diferente logo é notado.

Bandas selecionadas
Primeiro, tocaram as sortidas bandas nacionais: tivemos o som pesado e oitentista do Venus Volts, o electropop limpo e bem-feito do Stop Play Moon, e o pop-rock rebuscado e cheio de referências (ainda que lento) do Nancy. Foi legal observar como cada uma aproveitou a chance, e fazer apostas sobre o futuro delas (minhas fichas estão no Stop Play Moon).

Bandas internacionais
Depois, chegou a vez das bandas internacionais, que não traziam fama na bagagem, mas tinham a qualidade musical necessária para superar esse revés, mesmo com tempos, gêneros e propostas variadas entre si. Foram elas:

Metric
O Metric, colocado como uma espécie de headliner, fez um show sério, profissional, muito bem-tocado. A experiência das apresentações para grandes platéias no Canadá e EUA ficou clara. Apesar de não ficar empolgado - nunca fui fã da banda -, posso dizer que gostei deles ao vivo. A turma da grade estava histérica, entretanto, da mesma maneira que fiquei com as outras duas bandas.

Fujiya & Miyagi
O Fujiya & Miyagi é precisão, repetição, transe. E todas as músicas que tanto ouvi do Transparent Things estavam lá, nota a nota, amplificadas por um setup de som que acentuou o tão valioso baixo que as torna hipnóticas. Não é o tipo de música capaz de criar histeria em grandes públicos, mas, ainda assim, fiquei surpreso ao ver como a frieza recíproca entre banda e audiência se desfez na entrada do baterista no palco, substituindo a base eletrônica com groove, novas viradas e uma dose extra de funk. No final, todos estavam cativados, com direito a um "aaaaah!" coletivo quando foi anunciada a última música.

The Go! Team
No lado oposto do espectro, tivemos a espontaneidade do Go! Team, trocando instrumentos, improvisando em arranjos e letras, e chamando - aliás, ordenando! - o público, fossem eles fãs antigos ou pára-quedistas, a cantar, dançar e fazer parte. Alguns dizem que o som deles é infantil... Que preguiça dessa gente que considera a ingenuidade como um elemento artístico inferior. Ela é a principal virtude do Go! Team, o combustível da inquebrantável busca pela euforia, sem cinismo ou grandes pretensões. As coreografias, as notas tortas, os samples de metais (incríveis), as gaitas e toda a bagunça restante no som dos ingleses soam ingênuos porque nossos olhos e ouvidos se tornaram cínicos com o tempo. Daquele entusiasmo genuíno no palco, nasceu uma espécie de nostalgia indefinida, definitivamente boa, que não remete a algum momento específico do passado, mas a algo ainda a ser vivido, agora! A mera lembrança do show já estampa meu rosto com um sorriso - que vontade de ser infantil pelo resto da vida! E é música nova, sem rótulos ou comparações, algo difícil de ser encontrado.

E o MP3 do Dia, afinal...
Como MP3 do Dia, vou deixar um dos destaques do show do Fujiya & Miyagi, Knickerbocker, faixa do novo disco, Lightbulbs, anunciado para setembro. A repetição krautrockiana está lá, mas com uma dose extra de calor que amolece, mas não derrete, a fundação glacial do som deles.

Knickerbocker - Fujiya & Miyagi

Um comentário:

Rodrigo Maceira disse...

graaande!