Nada comove mais do que uma fração de uma lembrança ou época idealizada. O romantizado é absoluto, inderrotável. Por isso que os mais velhos falam sobre como os dias passados eram melhores, e o primeiro beijo parece tão mais do que esbarrão atrapalhado de lábios. A memória adorna o passado, como um verniz cronológico - a cada ano, as cores ficam mais vibrantes, o morno, mais quente, e as ranhuras, mais embaçadas. Fomos felizes, enfim. E nunca mais o seremos - não daquela forma e naquela intensidade. Mas será que tudo foi tão mágico assim, lá, na época, ou apenas nos enganamos com o brilho sobre a madeira gasta?
É fácil ser nostálgico quando sua música é feita em 8-bit e samples de músicas recentes das quais você já gosta. Som de infância, das noites viradas jogando Nintendinho, das melodias da segunda fase do Ninja Gaiden II tiradas no teclado Casio. Aquele cheio de demos, que vinha com a incrível versão reggae para House of the Rising Sun. Mas há momentos em que o Crystal Castles consegue soar ainda melhor do que essa nostalgia idealizada - "nossa, essa música tornaria a quarta fase do Mega Man III ainda mais incrível!". O real derrota o idealizado, afinal.
Nos videogames, impressionava como recursos tão limitados podiam criar músicas tão distintas, uma para cada contexto programado - a agressiva trilha do chefe, a espástica melodia da fase bônus e a açucarada balada do final do jogo. Da mesma forma, o Crystal Castles conseguiu, com tão pouco, fazer um disco diverso, passando pelo sombrio, o eufórico e o lírico; novas lembranças de infância, 15 anos depois.
[MP3: crystal castles - untrust us]
do disco Crystal Castles (2008)
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