19 de novembro de 2009

Vênus de Milo com dois braços # 3: Universo Expandido

Por Bruno Scartozzoni.

Houve um tempo em que bandas ganhavam dinheiro vendendo CDs. O CD era a materialização física de seu trabalho. Você podia apalpá-lo, sentí-lo e exibí-lo em sua estante, assim justificando o preço pago por aquele conjunto de músicas. Com o advento do mp3, do iPod e do download ilegal (mas praticado por quase todo mundo) esse cenário mudou. Tá, já falei sobre isso na minha coluna anterior mas vale a pena repetir para os desavisados.

O negócio é que vivemos em um sistema capitalista e, feliz ou infelizmente, esses caras que tocam as músicas que gostamos de ouvir merecem ganhar alguma coisa em troca para garantir o pão nosos de cada dia, o leite das crianças e qualquer outro clichê que você prefira. Só que o ser humano é acomodado e, por mais que você ouça uma banda todos os dias, na hora H é altamente improvável que você vá abrir a carteira para recompensá-los. Bandas como Radiohead podem se dar ao luxo de fazer experimentos sociais e disponibilizar suas músicas pelo preço que cada um quiser pagar, mas por um bom tempo isso será a exceção que confirma a regra.

Nessa bagunça há duas saídas óbvias, apontadas por qualquer consultor futurologista de meia tigela. A primeira eu mesmo já falei na coluna passada, trata-se de dar um tratamento especial para o meio físico, tornar o CD um objeto de arte, de colecionador, feito para os fãs etc. Coisa que, diga-se de passagem, bandas de heavy metal como o Iron Maiden sabem fazer muito bem. Muito antes da onda mp3 elas já sabiam como lançar caixas e coletâneas para agradar seu público mais cativo.

A segunda saída são os shows, apontados como os salvadores da pátria. Muita gente defende que as bandas devam se popularizar distribuindo sua música de graça e depois capitalizar em cima das turnês. Mas, de novo, isso não funciona para todo mundo. E ultimamento li alguns artigos de especialistas apontando o alto custo para a realização de shows, não só no Brasil mas em qualquer país, o que inviabilizaria esse esquema.

É aí que entra a criatividade de expandir os limites e, inspirado pela música, criar outros produtos e serviços que tragam algo de novo e divertido para as pessoas e, ao mesmo tempo, garantam uns trocados para o artista. Nesse sentido as franquias de videogames Guitar Hero e Rock Band estão sendo apontadas como experiências bem sucedidas de vender música em um novo contexto, colocando as pessoas como protagonistas. Mas, para fugir do clichê, pegarei um exemplo nacional bastante criativo.

Trata-se do game para celular da Pitty, criado para promover seu novo trabalho. Trata-se de uma coletânea de três mini-games. Em um deles você banca a mulher moderna incorporando a Pitty mãe, dona de casa e profissional. No outro você confronta seus medos (ou os medos da Pitty? Não entendi!) por meio de um puzzle. E no terceiro você brinca de fazer stage diving em um show da cantora. A cada mini-game completado o jogador ganha acesso à uma música. Mais informações você encontra aqui, na fonte da notícia:http://www.gamereporter.org/2009/11/03/jogo-da-pitty-e-criado-para-promover-novo-trabalho/

Me parece que as idéias por trás dos mini-games poderiam ter sido melhor desenvolvidas, mas não vou julgar a execução pois não joguei. E o que realmente importa aqui é a cratividade de lançar algo que completa a música, mas ao mesmo tempo ajuda na divulgação. Me arrisco a dizer que esse game faz parte do trabalho, assim como as próprias faixas, o encarte do CD e a turnê que fatalmente acontecerá. A medida que tudo fica mais digital, e portanto menos palpável, é preciso expandir o universo de um trabalho musical para que as pessoas percebam sua existência e queiram remunerá-lo de alguma forma.

Se você tivesse uma banda, o que faria nesse sentido? Um filme? Um livro? Uma coleção de toy art? Uma instalação?

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