Baltimore é interessante por não possuir apenas uma cena, mas duas: de um lado, o B-Club de Spank Rock, Amanda Blank e outros, misturando booty bass e party rap, num curioso pancadão de sintetizadores e letras pornográficas; do outro, o coletivo Wham City, de músicos, artistas, cineastas e escritores, do qual fazem parte Dan Deacon, Ponytails e Santa Dads, com o seu amor por geringonças analógicas, arte contemporânea, videogames, drone e apresentações performáticas.
O elemento em comum das cenas? Sintetizadores velhos. Parece que os riquinhos de NY cansam-se dos seus brinquedos, que acabam desembocando nos ferros-velhos da decadente Baltimore.
De tantos artistas possíveis, são os Videohippos quem mais chamam a minha atenção. Enquanto seus colegas de Wham City vendem uma espécie de loucura cacofônica, abusando de blips e blops, samples engraçadinhos e vocais distorcidos, a dupla prima pela simplicidade, usando suas geringonças para melodias fáceis, harmonias ingênuas que preenchem todos os espaços, numa espécie de horror vacui sintetizado, enquanto as guitarras enaltecem as notas, os vocais somente constam, murmurados, e a bateria pesada, ora humana, ora eletrônica, faz as vezes das palmas. Em alguns momentos, parecem dream pop; em outros, um Lightning Bolt mais brando.
A esperada afetação artística surge nas apresentações ao vivo da dupla, banhadas por projeções gigantescas de imagens de cultura pop, editadas e interferidas por eles mesmos. Falam que é bem legal.
A identificação com o som de Lazer Jet vem de um hábito do passado: sentar-me ao teclado e segurar ou dedilhar as mesmas combinações de teclas, por vários minutos, encantado com a passagem ou reverberação entre as notas. Por meio de suas batidas simples e incansáveis harmonias sintetizadas, os Videohippos evocam esse efeito mais primitiva da música, essa necessidade em colocar tais notas para fora, mesmo sem recursos técnicos, pelo tempo que for, para sentir algo diferente, fisiológico mesmo, por dentro. Como no amor dos shoegazers pelos mesmos acordes e os 15 minutos de ré de You Made Me Realise. Arte que um louco de verdade, longe de batismos e vícios acadêmicos, faria.
[MP3: videohippos - lazer jet]
Um comentário:
"Bear fight" é mais que climática. Não conhecia videohippos. Buenísimo.
Postar um comentário