Se você anda meio cabisbaixo com sua existência, o estado do mundo ou a irracionalidade das pessoas, anime-se! Saiba que a vida ainda reserva espaço para boas surpresas. Hoje mesmo, por exemplo, tive duas.
Nunca fui fã da voz da Marina Ribatski (ou Vello), (ex) vocalista do Bonde do Rolê. A atonalidade, os gritos, os registros agudos... Sério, essa senhorita tirava-me do sério. Mas fiquei impressionado com a sua participação no último (e ótimo) disco do Go! Team, Proof of Youth (2007). Fake ID parece música de comercial de refrigerante, incorrigivelmente feliz, alentadora, digna de palmas, batuque de pé e sorriso. E a voz dela está lá, não apenas adequada à euforia da canção, mas como o maior destaque, uma fúlgida melodia dentre a distorção empilhada de sons e instrumentos. De onde veio toda essa doçura pop?
E apesar de ser um entusiasta declarado do primeiro disco do Go! Team, Thunder, Lightning, Strike (Huddle Formation!), encarava o projeto como um canhão de um tiro só, um mágico de um truque só, um samba de uma nota só, um carro de uma marcha só... A criação do inglês Ian Parton e o seu computador era feita de centenas de samples de felicidade (cantos de cheerleader, vozes de crianças, palmas...), trumpetes de bangue-bangue, e muitas lembranças da black music e do hip-hop de antigamente. O som obtido, ainda que incrivelmente rico e inovador, era peculiar demais, calcado em uma fundação de vigas sem qualquer flexibilidade aparente. Tratava-se da tempestade perfeita para o fiasco do segundo disco: um Thunder, Lightning, Strike parte II seria massacrado por sua limitação artística; um álbum muito diferente da fórmula que encantou tanta gente seria uma decepção.
Mas Fake ID - e outras músicas do Proof of Youth - mostra que o negócio de Parton é o pop, ponto, seja com cordas, guitarras, rappers, sintetizadores ou fagotes. As influências são reverência, ao invés de referência - provas de amor de um fanático com conhecimento musical enciclopédico; os samples não são gimmicks gratuitas, mas artifícios de um sujeito disposto a criar uma realidade de euforia absoluta, paralela à nossa, onde a música está a serviço dos sorrisos com olhos fechados, das danças desengonçadas, dos high-fives, das cambalhotas e estrelas. Como você ainda consegue ficar cabisbaixo?
[MP3: the go! team - fake id]
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