Sombria, estranha e surpreendentemente bela. Do Your Best, de John Maus, possui aquela claustrofóbica melancolia sintetizada dos anos 80, preenchendo todos os espaços com ecos e notas distantes, em detrimento de qualquer vislumbre de um mundo lá fora. Nada de novo, até então. A dissonância do lugar-comum está na voz barítona de Maus. Seria ela irônica em sua gravidade ou sincera em sua melancolia? Assumo que há breves momentos nos quais escapa um riso - será que ele fala assim no dia-a-dia? -, mas muitos outros nos quais essa estranha voz encerra uma visão maior, uma coerência absoluta com a atmosfera ao seu redor.
Maus toca teclado com Noah Lennox, vulgo Panda Bear, artista-solo, membro do Animal Collective e fã declarado de sua música. Ter o aval de alguém tão louvado por todos os blogs e publicações deveria ser o suficiente para colocar o novo disco de Maus, Love is Real (2007), nos posts, resenhas e listas de melhores do ano, todos copiando uns aos outros nos mesmos 10 elogios e analogias. Acho que não daria para ter mais credibilidade online do que isso.
Mas a música de Maus é tão hermética, tão ignorante das ansiedades de terceiros, tão ensimesmada nesse universo de frieza e depressão irrevogáveis, que, pela primeira vez, a turma não comprou o hype. Em seu MySpace, Maus diz nenhuma palavra: apenas elenca sete críticas negativas (e agressivas) à sua música. Talvez o seu appeal venha dessa contravenção ao fácil, àquilo que todo mundo quer. Fora que é divertido pensar em Lennox, baluarte da folia indie, barulhos primitivos, uivos e gritos de arara, ouvindo algo tão sombrio.
[MP3: john maus - do your best]
Um comentário:
Nem ignorante nem sinistra. Com certeza longe do lugar comum. Mais sincera do que ironica. Gostei, assim como de seus comentários.
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