23 de janeiro de 2009

club de las serpientes #20 - entre ríos



Não contei para mais ninguém. Um pouco de vergonha - ou timidez. Uma vez, era pequeno, uns 6 ou 7 anos. Inventaram um carnaval no clube de alguém. Disse não; homem rebelde diz não. E, depois de 12 minutos, tive que dizer sim, ou não vai para Juquehy. Fidel passou três meses de estrepolias entre Miami e Nova York, antes da revolução. Com tudo pago - pelo pai. Tudo bem. Fui até o armário, cabisbaixo, improvisar alguma fantasia. Abri a porta, as gavetas. E me vesti com a única roupa de super-herói que eu tinha. Um batman de capa vermelha. Meia hora num ginásio suado, confete e serpentina no pescoço, sem graça alguma, refúgio no parquinho. Brinquedos cheios, eu, estrangeiro, com receio de arranjar briga por falta de lugar. Fui para a fila do carrossel. Lá dentro, bem no meio, um molequinho rodava o aro que fazia o carrossel rodar no sentido inverso. Quase a xícara da Cidade das Crianças. Em São Bernardo. Quando chegou a minha vez, perdi o controle. Girei demais o timão. Eu e o moleque. Criançadinha gritando, mãe mandando, para, deixa disso, diabo. Eu, por um triz; a mão suando na barra, perdendo contato, é um, é dois, é três, a asa acionada, o voo de seis metros, metros e meio, meu melhor carnaval.
Rodrigo Maceira

entre ríos - temprano
myspace.com/entrerios

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