Para muita gente, a recente febre da space e/ou ítalo-disco ainda não convenceu. Não se trata de uma música muito fácil de ser assimilada, tanto pela repetição, quanto pela falta de batidas mais óbvias - o famoso pancadão, ou technera, ou baticundum, como a garotada costuma dizer hoje em dia.
Mas Stuck on Repeat, do Little Boots - tradução do apelido "Calígula", dado àquele imperador romano do senador cavalo e as esbórnias épicas - é uma pílula fácil de ser engolida.
A primeira faixa do projeto-solo de Victoria Hasketh (ex-Dead Disco), produzida por Joe Goddard (Hot Chip), faz um curioso esticamento da noção de pop com os alicates da ítalo-disco: a candura da voz da moça é introduzida após minutos de um sombrio e insistente arpeggio sintetizado à la Giorgio Moroder, envolta por distorções de vários tipos, e destacada por uma pausa climática e sem batidas de 2 minutos, onde finalmente surge um refrão, every time i try, every time i try..., tal como uma participação especial da Kylie Minogue num filme do Dario Argento.
Sim, tem um quê de cafona, e é o tipo de coisa que eu deveria ouvir sozinho, no nababesco escritório do Dominódromo, sem fazer menções no blog. Mas a limitada dancinha na cadeira não nega: desse crime, eu quero ser culpado.
[MP3: little boots - stuck on repeat]
Um comentário:
Stuck on groove! Apesar de soar mais alegre que glass candy, little boots também resgata o clima sexy de outrora. A ítalo-disco, na minha opinião, tenta trazer à tona essa atmosfera tão abafada pelos minimalistas. Isso é louvável e por isso venho escutando muito a pouca produção atual. Não tenho dúvidas de que o minimalismo contribuiu muito para "encorpar" a eletrônica, mas seria o fim do groove o preço justa a ser pago?
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