No meio da própria fala, depois de tardes e noites de ensaio, Cam esquece o texto. O som de alguém mascando chiclete, uma bala de goma presa ao dente, ou nervosismo. Tom fecha o olho, cabisbaixo, aprovação em risco. Existe uma terceira personagem em cena, meio gaga e inofensiva: o caso é entre os dois. O silêncio, prolongado, pede atenção redobrada. São trinta pessoas, entre amigos, estranhos e examinadores. Lá atrás, no fundo da platéia, tia Alicia aperta os dedos contra a palma da mão:"vai, filhinha, não deixa o sonho cair agora". Ao lado, quase deitado, o pequeno Juan, de saco cheio. "Sei, querido, criança não gosta dessas coisas". "Criança?" - Cam, lembrando, no palco. "E eu, com 20 anos", pensou coisa de 6 segundos antes de chegar sua vez. Tom, de volta, olho aberto, invade Cam: trocam os olhos como trocam opiniões, lá fora, quando sentam num banco do Parque Metropolitano para fechar um tema novo. "Música é mais fácil", desabafa Cam, diante da surpresa de todo mundo. "Nunca esqueci".
Rodrigo Maceira
[MP3: caramelitus - mapamundi]
http://myspace.com/caramelitus
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